Especialista conta que a depressão provoca uma distorção na visão de mundo e de si, pois muitas vezes a pessoa se sente inútil por não conseguir fazer algo como antes. O que vemos é o relato de que o mundo perdeu a cor, perdeu a graça
Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), 300 milhões de pessoas no mundo sofrem de depressão. Conforme o relatório “Depressão e outros transtornos mentais”, da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país com a maior prevalência da doença na América Latina. Dados do último mapeamento realizado pela OMS mostram que 5,8% da população brasileira sofre de depressão, o equivalente a 11,7 milhões de brasileiros.
A psiquiatra Amanda Cavalcante explica que a depressão é uma patologia duradoura, permanecendo na maioria dos dias e não necessariamente tem um fator externo. Normalmente não melhora se o indivíduo não for tratado de forma adequada. Além disso, gera sofrimento significativo ou afeta o funcionamento da pessoa (no trabalho, escola, relacionamentos pessoais).
A médica diz que os sintomas mais comuns da doença são humor deprimido e perda do interesse em atividades que antes geravam prazer. Pode ocorrer alteração do apetite, proporcionando ganho ou perda de peso, insônia ou excesso de sono, perda de energia, dificuldade de concentração ou até pensamento em relação à morte e ideação suicida.

Amanda lembra que as pessoas demoram a buscar ajuda profissional, apesar da consciência sobre a gravidade dos transtornos mentais. “Muitos indivíduos ainda têm dificuldades em entender que a pessoa deprimida está realmente doente, mesmo a doença não gerando algo visível aos olhos, como uma perna quebrada, por exemplo. Até a própria pessoa se sente culpada pelos sintomas, levando a demora na busca pela ajuda e uma dificuldade maior em realizar o tratamento”, comenta.
Tratamento
A psiquiatra destaca que o tratamento da depressão é multidisciplinar e não apenas com medicação. É necessário o acompanhamento com psicólogo, a mudança do estilo de vida, com atividade física, alimentação adequada, sono regular e de boa qualidade, além de contato social.
Doença afeta mais mulheres
De acordo com a especialista, a depressão afeta duas vezes mais as mulheres do que os homens. Ela esclarece que durante a vida, os homens têm dosagens de hormônios sexuais relativamente estáveis. As mulheres, ao contrário, sofrem flutuações bruscas de estradiol ao longo da vida. Além das alterações que ocorrem durante o ciclo menstrual, mudanças nesses níveis são muito evidentes durante o pós-parto e a perimenopausa. “O estradiol tem efeito no cérebro e pode aumentar a produção de serotonina, hormônio muito importante para o humor e a sensação de bem-estar. Essas alterações podem ser fundamentais para desencadear o quadro em pacientes suscetíveis ao transtorno depressivo. Não podemos esquecer a questão social, já que as mulheres têm mais chances de apresentar histórico de violência e desigualdade social”, reforça.
Papel da família
Amanda chama atenção que o suporte familiar é necessário por diversos aspectos, como perceber a mudança do comportamento da pessoa deprimida e identificar comportamento de risco. A psiquiatra observa que, muitas vezes, a própria pessoa não tem forças para enfrentar a doença ou se envergonha da patologia. A família pode auxiliá-la a buscar e manter o tratamento. Além disso, deixar claro para a pessoa com depressão que ela não está sozinha nesta jornada.
Relação da ansiedade com a depressão diagnosticada
Amanda argumenta que tanto a ansiedade pode ser um fator de risco para a depressão, quanto a depressão para o transtorno ansioso. O quadro de ansiedade é muito comum em pessoas com depressão, não sendo necessariamente uma patologia à parte e, sim, um sintoma da própria depressão. “A pessoa com quadro depressivo pode apresentar medo excessivo, negativismo, angústia e irritabilidade, por exemplo, podendo levar a uma sensação de inquietação ou até a crise de ansiedade”, finaliza.