A neurologista Ana Carolina Dias Gomes explica que a cefaleia é um termo médico para dor de cabeça, além de ser um dos motivos mais comuns de falta ao trabalho. Ela diz que 93% dos homens e 99% das mulheres terão algum tipo de dor de cabeça ao longo da vida. Cerca de 76% das mulheres e 57% dos homens têm pelo menos um episódio de dor de cabeça ao mês. “Existem mais de duzentos tipos de dores de cabeça. Algumas delas podem ser apenas sintomas de outra doença (secundária), que pode ser séria ou não”, aponta.
Quando a doença por trás é a própria dor de cabeça, as cefaleias primárias não têm uma causa como tumor, aneurisma, pressão alta. Na descrição da dor de cabeça, o exame neurológico determina se são necessários testes adicionais e qual é o tratamento. As mais recorrentes são enxaqueca e a cefaleia tensional. Outras formas menos comuns incluem a cefaleia em salvas e as trigêmino-autonômicas. A médica conta que neurologistas também tratam dores de nervos cranianos e faciais, como a neuralgia do trigêmeo e a pós-herpética (depois de se ter herpes-zoster).
Já as dores de cabeça secundárias podem ser inofensivas ou perigosas. Elas são causadas por uma doença subjacente e algumas das causas são má-postura, trombose venosa cerebral, meningite, sinusite, dissecção arterial, traumatismo cerebral, hipertensão intracraniana, tumor cerebral, arterite temporal, aneurisma cerebral, disfunção da articulação temporomandibular, acidente vascular cerebral (AVC).

Sinais de alarme para a dor de cabeça secundária
Doenças sistêmicas: febre, perda de peso não intencional, suores noturnos, HIV, ter gestado recentemente.
Sintomas neurológicos: visão dupla, mudança na sensibilidade ou fraqueza de um lado do corpo, ou rosto, desmaio, mudanças no estado mental, convulsões, entre outras.
Início súbito: dor em trovoada fica intensa dentro de poucos minutos, precisando parar as atividades porque a dor não deixa continuar.
Cefaleia com início após idade habitual: é uma dor diferente das anteriores. Começa após os 50 anos.
Mudança no padrão da dor: a dor passa a ser diária ou piora quando a pessoa fica deitada um tempo ou acorda durante a noite.
Desmistificando os maiores temores de quem está com dor de cabeça
Tumor Cerebral: a neurologista esclarece que os tumores cerebrais são uma causa rara de dor de cabeça, e quando o paciente tem, não é comum eles apresentarem dor intensa. Um em cada três pacientes com diagnóstico de tumor cerebral relatam cefaleia quando procuram o médico. Somente 1% a 2% têm cefaleia sem outro sintoma junto.
“Os verdadeiros sinais de que pode haver um tumor na sua cabeça, além de déficits neurológicos focais no exame, são as mudanças no padrão de dor. Deve-se ter em mente que alguns dos sinais de alarme podem estar presentes em cefaleias primárias, como a enxaqueca e cefaleia em salvas. A natureza da dor de cabeça causada por um tumor cerebral é tipicamente de difícil caracterização pelo paciente”, ressalta.
Aneurisma
De acordo com a médica, o aneurisma é uma dilatação (alargamento) de um vaso que pode ocorrer em qualquer lugar do corpo, inclusive no cérebro. O vaso fica com um pedaço mais largo, parecendo um balão ou uma bolsinha. Nesse local, o vaso fica com a parede mais fina e arrisca estourar, mas a maioria das pessoas vive com o aneurisma sem saber que eles existem. “Não apresentam sintomas. Acabamos descobrindo, geralmente, por meio de exames para ver outras coisas. Os neurocirurgiões podem operar por precaução”, comenta.
Hematoma subdural
É outro tipo de sangramento na cabeça. O sangue fica entre o cérebro e o osso (o crânio), mais precisamente entre a meninge (as meninges são como capinhas protetoras do cérebro) subaracnoide e a dura máter. Essa cefaleia pode ter um início menos agudo. As características da dor de cabeça podem ser semelhantes às de um tumor cerebral e alterações do estado mental também podem estar presentes, particularmente nos pacientes idosos.
Acidente vascular cerebral (AVC)
Cerca de 27% dos pacientes com AVC agudo apresentam cefaleia antes de outros sintomas. A neurologista destaca que a enxaqueca com aura também está associada ao risco aumentado de acidente vascular cerebral.
A dissecção arterial é uma causa rara, sendo comum quando o AVC ocorre no paciente mais jovem. Caracteriza-se pela ruptura das camadas arteriais que faz o sangue entrar, levando à redução do diâmetro da artéria. A cefaleia ocorre entre 60% a 95% dos casos de dissecções da artéria carótida e em 70% na artéria vertebral. A dor pode ser de um lado só do rosto/pescoço, e na maioria será acompanhada por alterações neurológicas focais e nos olhos.
Trombose venosa cerebral
É o entupimento do sistema venoso cerebral. Representa menos de 1% de todos os casos de trombose. Na população em geral, a incidência da doença é de 1 a cada 100 mil pessoas, sendo três vezes mais comum em mulheres, do que em homens, devido à existência de fatores de risco específicos, como contraceptivos hormonais, gravidez e puerpério. A obstrução do fluxo venoso pode resultar em isquemia (morte de neurônios por falta de sangue) ou hemorragia (sangramento) por congestão vascular. A dor de cabeça é a característica mais comum, presente em 75 a 90% dos casos, contudo vem acompanhada de déficits neurológicos focais. “Alguns exames que pedimos tanto no pronto-socorro, quanto no consultório, nos auxiliam no diagnóstico, como a tomografia computadorizada de crânio, ressonância magnética craniana e angiografia por ressonância”, finaliza.