Especialista diz que à medida que envelhecemos, o risco de desenvolver arritmias aumenta devido ao processo de desgaste natural da estrutura muscular, arterial e elétrica (nervos) do coração, além da prevalência de outras condições de saúde, como hipertensão e diabetes
Dados apresentados pela Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac) indicou que o problema atinge mais de 20 milhões de pessoas no país. Ela é responsável por mais de
320 mil mortes súbitas anualmente no Brasil. O cardiologista Bruno Gustavo Chagas esclarece que a doença é uma condição em que o ritmo dos batimentos cardíacos se torna irregular, podendo ser com frequência cardíaca normal, entre 50 e 100 batimentos por minuto (bpm); muito rápido (taquicardia), quando acima de 100 bpm; muito lento (bradicardia) abaixo de 50 bpm ou com batimentos descoordenados. A arritmia pode ser paroxística, quando começa e termina espontaneamente sem a intervenção médica; persistente, quando só se corrige mediante intervenção médica ou permanente, quando não é possível ser corrigida.
Causas
Bruno comenta que o estresse, ansiedade, insônia, apneia obstrutiva do sono e outras doenças psiquiátricas podem desencadear arritmias por aumento da liberação de cortisol, adrenalina e noradrenalina. Ele acrescenta que alguns medicamentos prescritos ou de venda livre podem afetar o ritmo cardíaco, como, por exemplo: descongestionantes nasais puros ou contidos em alguns antigripais, corticoides, anti-inflamatórios não esteroidais, antitussígenos, broncodilatadores para asma ou bronquite, alguns antidepressivos, ansiolíticos, anfetamina, hormônios e os próprios antiarrítmicos.
Isquemia miocárdica: quando há diminuição do fluxo sanguíneo e oferta de oxigênio para o miocárdio (tecido muscular cardíaco), como na doença arterial coronariana, onde há obstrução parcial ou total da passagem de sangue causado por depósito de colesterol na parede das artérias. Além disso, o médico destaca:
Insuficiência cardíaca: o coração não consegue bombear a quantidade de sangue suficiente para manter o metabolismo dos tecidos orgânicos. Nesse caso, as arritmias acontecem tanto por sobrecarga do coração quanto pela própria diminuição do aporte de oxigênio ao miocárdio.
Valvopatias: a válvula cardíaca está disfuncional, não abrindo e/ou não fechando adequadamente, causando sobrecarga de pressão e/ou de volume no coração.
Distúrbios eletrolíticos e do pH: quando aumenta ou diminui os níveis sanguíneos do pH, sódio, potássio, cálcio e/ou magnésio, principalmente, acontece em casos de diarreias e/ou vômitos, doenças renais, pulmonares, endócrinas e diabetes.
Fatores genéticos: apesar de algumas arritmias serem hereditárias, é crucial frisar que a herança representa, no máximo, 30% da probabilidade de se desenvolver qualquer enfermidade. A epigenética é o que realmente determina a expressão do gene que codifica o código da doença. A epigenética está relacionada ao estilo de vida da pessoa. Aproximadamente 80% das doenças estão relacionadas à alimentação, sedentarismo, aumento do peso, exposição a tóxicos, deficiência de vitaminas e sais minerais, inflamações, infecções, desequilíbrios hormonais, dentre outros fatores.
Sintomas
O cardiologista aponta que os sintomas podem variar dependendo do tipo e da gravidade. Os mais frequentes são:
Palpitações: a pessoa sente os batimentos cardíacos no peito ou no pescoço e percebe que o coração está acelerado, batendo forte ou irregularmente, nesses momentos pode apresentar eructações e náuseas.
Fadiga: sentir-se excessivamente cansado sem motivo aparente.
Tontura ou desmaio: acontecem devido à diminuição do fluxo sanguíneo para o cérebro.
Sudorese fria e palidez: diminuição do fluxo sanguíneo sistêmico.
Dor no peito: sensação de falta de ar ou dificuldade para respirar, especialmente durante algum tipo de esforço.
Contudo, o especialista lembra que algumas arritmias podem ser assintomáticas, sendo detectadas apenas no exame físico, da avaliação médica ou em exames complementares cardiológicos.
Exames
De acordo com o cardiologista, além da ausculta cardíaca e palpação do pulso no exame físico realizado pelo médico, é necessário identificar o tipo da arritmia, e para isso podem ser realizados alguns exames complementares como:
Eletrocardiograma (ECG): aparelho que registra a atividade elétrica do coração mediante eletrodos aderidos em locais estratégicos na pele do tórax, dos punhos e tornozelos. É o exame mais comum para detectar arritmias.
Monitor Holter: aparelho portátil de eletrocardiograma que fica aderido ao corpo e registra o ritmo cardíaco por 24, 48 horas ou até 7 dias.
Teste ergométrico: são instalados eletrodos e cabos de registro de eletrocardiograma no paciente. Realiza-se indução de estresse do coração por meio de exercício físico na esteira elétrica ou bicicleta ergométrica, com aumento gradativo da carga, podendo ser avaliado a resposta da frequência cardíaca e presença de arritmias desencadeadas pelo esforço.
Estudo eletrofisiológico: é mais invasivo, onde são inseridos cateteres em artérias até o coração para mapear a atividade elétrica e identificar a origem das arritmias.
Tratamentos
O médico ressalta que a arritmia sendo secundária a alguma outra patologia, controlando, estabilizando ou curando a causa, corrige a arritmia. “Podem ser usados medicamentos antiarrítmicos que controlam a frequência cardíaca ou que restauram o ritmo normal. Alguns casos requerem a cardioversão ou desfibrilação elétrica, um procedimento que utiliza choque elétrico para restaurar o ritmo normal do coração. Algumas arritmias exigem ablação por cateter, o qual é um procedimento minimamente invasivo usado para cauterização dos focos do tecido cardíaco de onde se originam os estímulos elétricos responsáveis pelo início da arritmia”, argumenta.
Bruno afirma que os dispositivos implantáveis, conhecidos como marcapassos, são introduzidos eletrodos no coração através da veia jugular ou subclávia e conectados a um dispositivo com uma bateria que fica abaixo da pele na região superior do tórax. Esse dispositivo emite estímulos elétricos no miocárdio para manter uma frequência cardíaca adequada em situações de frequências muito baixas. Existem também os cardiodesfibriladores implantáveis, que funcionam da mesma maneira que o marcapasso, mas que identificam a arritmia no início e a corrigem por meio de um choque direto no coração. “A mudança do estilo de vida é fundamental e inclui dieta saudável, exercícios físicos regulares, redução do estresse emocional, não usar estimulantes como cafeína e álcool”, salienta.
Cirurgia
Conforme o médico, a cirurgia é indicada em casos graves ou quando outros tratamentos não são eficazes. As situações que podem necessitar de cirurgia incluem arritmias refratárias, que não respondem a medicamentos ou procedimentos menos invasivos; cardiopatia estrutural, quando a arritmia é desencadeada por alterações estruturais no coração que requerem correção cirúrgica, como, por exemplo, as doenças valvares; complicações graves, como insuficiência cardíaca severa ou aneurisma ventricular, que pode acontecer após um infarto do miocárdio.