O caminho que leva os franqueadores do mercado brasileiro à rota dos investidores
Quando franqueados e fundos de investimento estão em um mesmo ambiente nos Estados Unidos (EUA), pode-se dizer que o resultado desse encontro é um sucesso no-brainer (expressão em inglês que, em livre tradução, significa “algo que é óbvio”).
O encontro é fadado ao sucesso, porque o mercado de franquias tem se apresentado muito atraente para os investidores.
Nos EUA, o porte dos franqueadores, aliado ao alto grau de governança embutido no negócio, costuma atrair a atenção do mercado de capitais, favorecendo a expansão das franquias.
Esse movimento, que é no-brainer nos EUA, está se tornando uma tendência global e pode impactar também franqueadores no Brasil nos próximos anos.
Afinal, trata-se de um mercado que vem registrando crescimento ano a ano.
Segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF), no primeiro trimestre de 2024, o crescimento acumulado do setor de franchising nos últimos doze meses foi de 14,3%.
O faturamento avançou de R$218,962 bilhões para R$250,367 bilhões, entre 2023 e 2024.
Resultado favorecido por fatores sazonais e o forte desempenho dos segmentos de Alimentação (tanto Comércio e Distribuição, quanto Food Service), Saúde e Beleza, Serviços e outros negócios.
Na comparação entre o primeiro trimestre de 2023 e os três primeiros meses deste ano, a expansão chegou a 19,1%.
Nesse período, o faturamento geral do setor avançou de R$50,854 bilhões para R$60,560 bilhões.
Entre os segmentos que mais se destacaram, estão Alimentação Comércio e Distribuição, com 43,9% de crescimento; Foodservice (26,6%); além de serviços e outros negócios (25,3%).
Apesar dos bons resultados alcançados, o setor de franchising no Brasil ainda precisa alcançar alguns degraus para ter mais visibilidade e entrar no radar dos fundos de investimento.
Um dos principais motivos que torna o setor um pouco opaco para os investidores está atrelado às questões envolvendo baixo grau de governança e ausência de estratégias mais transparentes para o capital investido.
Em geral, as franqueadoras ainda são consideradas pequenas em termos de receita e EBITDA.
O caminho para um IPO, que é a primeira oferta pública de ações em uma bolsa de valores, ainda parece distante. Porém, esse cenário está começando a adquirir novos contornos.
Os franqueadores, por sua vez, entendem a necessidade de obter financiamento para escalar a expansão e começam a explorar modelos de crescimento mistos.
Nesses modelos, os franqueadores são operadores que montam um ecossistema ao redor da rede para captura de receitas adicionais.
Esse conjunto engloba: indústrias, distribuição, meios de pagamento, tecnologia entre outros.
Essa prática aumenta a fatia da receita e EBTIDA, consequentemente, tornam-se alvos mais interessantes.
Uma das lições que os franqueadores do mercado dos EUA já internalizaram e aplicam no dia a dia é elevar o nível da governança nas operações.
Esse exemplo tende a ser seguido também pelos franqueadores de médio porte no Brasil, que começam a compreender o valor de ter uma governança sedimentada.
Outra prática que vem transformando a percepção do mercado em relação ao setor de franquias é manter dados estruturados, ou seja, organizados.
Governança bem resolvida e a transparência nos dados organizacionais são condições imprescindíveis para quem sonha em acessar o mercado de capitais, realizando M&A ou até um IPO.
No setor de franchising, temos alguns exemplos de quem está desbravando esse caminho.
Um deles é a Espaço Laser, que fez sua estreia na B3 no início de 2021.
Em maio deste ano, a empresa reduziu a alavancagem e mostrou ao mercado os melhores resultados já alcançados desde o IPO.
Para quem ainda não se considera suficientemente maduro para acessar a B3, há outras opções de listagem, como a Bee4, mercado de balcão organizado para a negociação de ações de empresas com faturamento anual entre R$10 e R$300 milhões.
Na prática, a Bee4 pode funcionar como uma espécie de incubadora ou celeiro para o patamar das empresas habilitadas a fazer a primeira oferta pública de ações, também conhecido como IPO.
Vale lembrar que a Bee4 não concorre com a B3.
Mesmo diante de mudanças significativas na forma como os franqueadores enxergam a expansão do negócio, o setor ainda precisa avançar em termos de cultura organizacional.
Na maioria dos casos, o franqueador nutre um apego pelo projeto, idealizado por ele.
Falta amadurecimento, do ponto de vista de cultura organizacional, para eventualmente delegar o controle do negócio.
Porém, a visão do mercado de capitais é reta.
Os investidores focam no resultado operacional e na eficiência do negócio.
Portanto, o caminho para tornar o negócio atraente ao capital externo requer alinhamento de interesses.
É preciso que o franqueador esteja aberto a eventuais abordagens de fundos de private equity, que vão jogar claro e colocar as cartas na mesa.
Outro exercício que cabe ao franqueador é enxergar o estabelecimento da governança corporativa como inevitável para oferecer a transparência sobre o fluxo do capital e o atingimento de metas.
Nessa equação, o melhor resultado financeiro exige alinhamento de interesses.
Para multiplicar os resultados, é preciso adicionar a cultura organizacional e diminuir o apego ao controle.