Com crescimento recorde nas aberturas de pequenas e médias empresas no país, mais de 1,8 milhão entre janeiro e abril de 2025, o fardo regulatório e processos administrativos seguem sendo apontados como barreiras para escala e eficiência empresarial
A abertura de 1.815.912 empresas no Brasil no primeiro quadrimestre de 2025 representa um aumento de 24,4% em relação ao mesmo período de 2024. Contudo, dados recentes mostram que 49% das PMEs dedicam um tempo excessivo a tarefas burocráticas, emissão de notas, planilhas, conciliação bancária.
Este contraste entre o ritmo acelerado de formalização e a persistência de entraves administrativos levanta a questão sobre o real impacto da burocracia para os pequenos negócios.
Por que o Brasil desponta no ranking de burocracias?
De acordo com o Índice Global de Complexidade de Negócios (GBCI) de 2025, o Brasil ocupa a sexta posição entre os países com maior grau de complexidade para empreender. Esse cenário reflete trâmites que envolvem múltiplos órgãos, diferentes níveis da administração pública e exigências que afetam principalmente as micro e pequenas empresas.
A rapidez de abertura de empresas, por si só, não é suficiente para garantir operação fluida. No maior estado do país, São Paulo, por exemplo, o tempo médio para formalização chegou a 1 dia e 7 horas, maior nível registrado no primeiro quadrimestre de 2025.
Portanto, embora se observe dinamismo no número de registros, o ambiente operacional continua marcado por morosidade que compromete agilidade e competitividade de novos empreendimentos.
Em que pontos a burocracia pesa para PMEs?
Entre os fatores de peso, destaca-se o tempo dedicado a atividades administrativas repetitivas: quase metade das PMEs afirma dedicar esforço excessivo. Essa carga operacional reduz a atenção estratégica ao negócio, limita investimentos e pode comprometer o crescimento. Outro aspecto é o cenário tributário e regulatório, a multiplicidade de obrigações, a instabilidade normativa ou a reposição tardia de dispositivos legais geram incerteza.
Também há impacto sobre acesso a infraestrutura mais flexível: muitos empresários optam por soluções como o uso de escritório virtual, que disponibiliza endereço fiscal e comercial e recepção de correspondência sem a necessidade de imóvel físico oneroso.
Essa escolha, embora represente uma adaptação inteligente, também evidencia o custo e a complexidade que recaem sobre negócios menores ao buscar um arranjo formal aceitável.
Como a tecnologia e a IA estão mudando o cenário burocrático?
A incorporação de tecnologias, especialmente de Inteligência Artificial, representa uma das principais frentes de melhoria operacional para PMEs. Um estudo recente da ASUS aponta que 64% das pequenas e médias empresas já consideram estar preparadas para utilizar IA, e 41% relatam benefícios tangíveis.
A automatização de processos burocráticos, como emissão de notas fiscais, controle contábil e atendimento, mostra-se um caminho para reduzir o peso administrativo.
No entanto, a adoção ainda se dá de forma desigual, e a burocracia regulatória não desaparece automaticamente com a tecnologia. A IA pode agilizar operações, mas o empresário ainda enfrenta exigências de conformidade, obrigações acessórias e obrigações de registro que dependem de normativas e sistemas públicos. Ou seja: a modernização tecnológica corrige parte do problema, mas não elimina a carga burocrática estrutural.
Que impactos a burocracia tem no crescimento e longevidade das PMEs?
Apesar da economia brasileira apresentar saldo positivo na abertura de empresas, com mais de 2,6 milhões de novos negócios no primeiro semestre de 2025. Estudos mostram que a maioria dessas empresas não ultrapassa os três anos de operação. Esse dado sugere que o ambiente de formalização é favorável, mas a sobrevivência e escalabilidade enfrentam barreiras que incluem burocracia, gestão, mercado e tecnologia.
Além disso, o esforço administrativo elevado retira foco da inovação, da construção de modelos de negócio robustos e da expansão. Se 49% das PMEs relatam sobrecarga burocrática, isso exerce impacto direto sobre recursos humanos, financeiros e estratégicos. Em um ambiente onde a digitalização e a adoção de escritório virtual deveriam facilitar o negócio, o excesso de processos ainda reduz a velocidade com que se adapta às mudanças de mercado.
Quais medidas podem atenuar esses entraves?
A adoção de soluções de automação e de gestão baseada em IA diminui a dependência de tarefas manuais e libera tempo para atuação estratégica. A estrutura de escritório virtual permite ao empreendedor operar de forma formal com menores custos fixos. Ainda assim, é necessário que políticas públicas, sistemas regulatórios e interfaces de serviço ao empreendedor ganhem nível de eficiência compatível com o dinamismo do setor.
Uma reformulação da experiência do empresário com órgãos públicos — redução de etapas, simplificação de formulários e interoperabilidade entre sistemas — aparece como caminho para compatibilizar o volume de formalizações com a sustentabilidade dos negócios. A tecnologia pode impulsionar essa transformação, mas a mudança regulatória permanece como peça-chave para que a burocracia deixe de ser entrave.
O cenário atual mostra que abrir uma empresa no Brasil está cada vez mais comum, mas manter e escalar ainda exige esforço elevado. A burocracia não desapareceu e permanece sendo um fator de desgaste para PMEs que aspiram crescer e aproveitar oportunidades tecnológicas como a IA.
