Expansão de linhas voltadas ao público feminino e maior inclusão financeira impulsionam o empreendedorismo feminino no país
O acesso ao crédito para mulheres empreendedoras tem avançado de forma significativa no Brasil. Segundo dados divulgados pelo Sebrae em parceria com o Banco Central, a carteira de crédito voltada a negócios liderados por mulheres cresceu 12% entre agosto de 2024 e agosto de 2025, alcançando R$ 72 bilhões em operações ativas. O número confirma uma tendência de expansão do protagonismo feminino no mercado de trabalho e na economia, especialmente entre micro e pequenas empresas.
O crescimento reflete tanto o aumento da demanda por financiamento quanto o surgimento de novas políticas públicas e produtos financeiros voltados à equidade de gênero. Bancos e fintechs têm ampliado a oferta de crédito com condições diferenciadas para mulheres, apostando em taxas mais competitivas e programas de capacitação voltados à gestão financeira.
Mulheres à frente dos negócios
Atualmente, segundo levantamento do Sebrae com base em dados do IBGE, cerca de 34% dos empreendedores no Brasil são mulheres, o equivalente a mais de 10 milhões de empresárias. Nos últimos três anos, esse número tem se mantido em crescimento constante, impulsionado por fatores como a busca por autonomia financeira e a necessidade de adaptação ao mercado pós-pandemia.
O estudo também mostra que 57% das mulheres que empreendem o fazem de forma individual, muitas como microempreendedoras (MEI). Entre as principais áreas de atuação estão os setores de beleza, alimentação, moda e serviços digitais, segmentos que apresentaram bom desempenho mesmo em períodos de instabilidade econômica.
Avanço das linhas de crédito inclusivas
A ampliação das linhas de crédito voltadas ao público feminino é resultado de um esforço conjunto entre instituições financeiras e programas de fomento. O BNDES, por exemplo, registrou um aumento de 14% nas liberações de recursos para empresas com mulheres no comando em 2025, totalizando R$ 3,4 bilhões em financiamentos diretos e indiretos.
Iniciativas como o Programa de Crédito Mulher Empreendedora, do Banco do Brasil, e o Elas Prosperam, da Caixa Econômica Federal, oferecem taxas reduzidas e prazos ampliados para negócios liderados por mulheres. Além do crédito em si, muitos desses programas incluem mentorias e capacitações em gestão e inovação, buscando reduzir a assimetria de informações que historicamente dificultou o acesso das mulheres ao sistema financeiro.
De acordo com o Fórum Econômico Mundial, as mulheres ainda representam menos de 40% dos beneficiários de crédito empresarial no mundo, mas o Brasil tem avançado acima da média global. Esse movimento não apenas impulsiona a geração de renda e emprego, como também fortalece a diversidade e a inovação dentro das empresas.
Educação financeira e sustentabilidade dos negócios
A consolidação de políticas de crédito voltadas para mulheres empreendedoras também passa pela educação financeira. Dados da Febraban indicam que, em 2025, 61% das mulheres que acessaram crédito empresarial participaram de algum programa de capacitação em finanças ou gestão. O índice é 15 pontos percentuais maior que o observado entre empreendedores do sexo masculino.
Para especialistas, essa diferença revela um aspecto positivo: as mulheres têm buscado preparo antes de assumir compromissos financeiros, o que contribui para índices de inadimplência menores. Segundo o Banco Central, a inadimplência média entre mulheres empreendedoras é de 2,8%, contra 3,6% entre homens, confirmando uma gestão mais cautelosa e responsável dos recursos obtidos.
O papel das garantias no crédito feminino
Entre as modalidades que vêm ganhando destaque no crédito empresarial para mulheres está o empréstimo com garantia de imóvel, que tem sido utilizado por empreendedoras em busca de capital de giro, expansão de negócios ou modernização de instalações.
Esse formato, também conhecido como home equity, oferece taxas mais acessíveis e prazos mais longos, pois o imóvel serve como garantia para a operação.
Segundo o Banco Central, o volume de operações de crédito garantidas por imóveis cresceu 11,2% em 2025, ultrapassando R$ 260 bilhões. Uma parcela crescente desse montante vem sendo direcionada a empresas lideradas por mulheres, que têm se beneficiado das condições mais vantajosas dessa modalidade.
A empresária Ana Paula Siqueira, proprietária de uma rede de cafeterias em Minas Gerais, relata que utilizou o crédito com garantia para reformar duas unidades e investir em sustentabilidade. “Com o imóvel como garantia, consegui taxas bem menores que em um empréstimo tradicional. Isso me deu fôlego para ampliar o negócio sem comprometer tanto o caixa”, explica.
Tendências e desafios para os próximos anos
A expectativa é de que o crédito para mulheres empreendedoras continue crescendo nos próximos anos, acompanhando o aumento da formalização e o avanço da digitalização nos pequenos negócios. O Sebrae projeta que, até 2027, o número de empreendedoras formais cresça 15%, impulsionado pelo acesso facilitado a financiamentos e pela consolidação de políticas de incentivo à liderança feminina.
Apesar do cenário positivo, desafios persistem. A burocracia, a falta de histórico de crédito e a dificuldade de oferecer garantias reais ainda limitam o acesso de muitas mulheres, especialmente as que estão começando. Por isso, especialistas defendem a ampliação de fundos garantidores e parcerias com cooperativas de crédito e fintechs, capazes de atender com mais agilidade e menos exigências.
Inclusão e protagonismo econômico
O crescimento de 12% na carteira de crédito para mulheres empreendedoras em 2025 representa mais do que uma estatística positiva, é um reflexo de um processo de transformação econômica e social. A presença feminina nos negócios reforça a importância da diversidade como motor de inovação e competitividade.
Com mais acesso a financiamento, educação financeira e redes de apoio, as mulheres têm conquistado espaço e se consolidado como protagonistas na economia brasileira. A tendência é que, à medida que políticas públicas e privadas continuem evoluindo, o crédito voltado ao empreendedorismo feminino se torne um dos pilares da inclusão produtiva e do desenvolvimento sustentável no país.